Universidade na BA diz que reitoria foi invadida após manifestação de cunho político; suspeito de envolvimento nega

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Entrada da universidade tem faixas com os dizeres 'Fora Bolsonaro'. Conteúdo tem causado confusões na instituição. — Foto: Universidade Estadual de Feira de Santana

Entrada da universidade tem faixas com os dizeres ‘Fora Bolsonaro’. Conteúdo tem causado confusões na instituição.

Foto: Universidade Estadual de Feira de Santana

O reitor da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) registrou uma queixa na delegacia, alegando que dois homens invadiram a reitoria da instituição na segunda-feira (17) e retiraram uma faixa de cunho político que estava na entrada da unidade.

Erivaldo Lima, um dos homens envolvidos no caso, nega as acusações. Ele afirma que conversou tranquilamente com o reitor e que não retirou nenhum material. Erivaldo não revelou se é apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL).

A faixa em questão contém os dizeres “fora Bolsonaro” e, segundo a reitoria, foi colocada pela Associação dos Docentes da Uefs.

A queixa foi registrada pelo reitor na terça-feira (18), na 2ª Delegacia Territorial de Feira de Santana, conforme informações da Polícia Civil, que apura o caso. No mesmo dia, a instituição divulgou uma carta aberta comentando a situação e detalhando que dois homens invadiram a reitoria, constrangendo os servidores. [Veja nota na íntegra no final da matéria]

Em conversa com o g1, a assessoria da universidade caracterizou a ação como “episódio de violência fascista”. No documento postado no site, ainda consta que depois de falarem com o reitor, os dois homens foram flagrados retirando uma faixa da fachada de entrada da instituição.

Erivaldo negou a versão da universidade. Em entrevista ao g1, o representante de vendas explicou que ele e o colega que foram à instituição não são estudantes da Uefs, mas passam diariamente pelo local e se questionavam sobre a presença da faixa em uma universidade estadual.

“Perguntamos para o segurança quem tinha autorizado a faixa e ninguém sabia explicar, então fomos até a reitoria para saber quem tinha autorizado. Chegando lá, o reitor disse que não nos autorizava a filmar a conversa, então não gravamos absolutamente nada. Apenas sentamos e conversamos”, contou Erivaldo.

Ele ainda revelou que ficou surpreso com a carta emitida. Erivaldo explicou que o encontro com o reitor foi tranquilo e que, ao finalizarem o assunto, ele e o colega beberam água e até conversaram com um segurança da unidade. Logo em seguida, os dois deixaram o local de carro.

“Eu quero que provem que foi a gente [que tirou a faixa]. Se tiverem imagens, eles vão identificar as pessoas e com certeza não fomos nós”, afirmou.

Após a carta publicada pela Universidade, Erivaldo e o colega procuraram um site do interior do estado para se posicionarem sobre a situação. Ele afirma que não entrou em contato com a reitoria, porque os fatos relatos na carta não correspondem a verdade.

“Não procuramos mais a reitoria. Nós tivemos uma conversa super cordial e não tinha necessidade de fazer uma nota como essa”, finalizou.

Outras situações

A assessoria da Uefs informou ainda que outras duas situações similares aconteceram durante o mês de outubro, logo após a exibição da faixa. Em uma delas, pessoas armadas rasgaram parcialmente uma das faixas com os dizeres “fora Bolsonaro”.

A primeira situação aconteceu no dia 7 de outubro, quando mulheres de um grupo conservador protestaram na frente da universidade e gravaram um vídeo contra a faixa da Adufs. No site da Uefs, foram publicadas notícias sobre as situações ocorridas.

Já o caso envolvendo pessoas armadas aconteceu no dia 10 de outubro. Quando um homem, que não teve o nome revelado, teria ido até a universidade para protestar contra a permanência da faixa.

Na carta emitida pela Uefs, todas as ocorrências são caracterizadas como ataques “a liberdade de expressão que historicamente emana do ambiente autônomo e crítico da universidade”.

Veja nota na íntegra da Uefs

Carta aberta da Uefs à sociedade em defesa da democracia e da liberdade de expressão

A Reitoria da Universidade Estadual de Feira de Santana torna público à comunidade universitária e à sociedade que nos últimos dias pessoas e grupos que se identificam com ideias de ultra-direita têm agido de forma agressiva na tentativa de atacar a liberdade de expressão que historicamente emana do ambiente autônomo e crítico da universidade. Sob o pretexto de questionar a exibição de uma faixa com o dizer “Fora Bolsonaro” de autoria da Associação dos Docentes da Uefs, essas pessoas agem de forma intimidatória, autoritária e agressiva. Já realizaram duas tentativas de destruição da faixa, inclusive, na noite de ontem (17), quando dois homens adentraram a secretaria do Gabinete da Reitoria constrangendo servidores com gravação de imagem em celular, enquanto faziam inquirições sobre a faixa. Como vem atuando diante desta situação, o reitor Evandro do Nascimento demonstrou atitude coerente e firme, exigindo que os dois homens desligassem o celular e parassem com o constrangimento no ambiente de trabalho da instituição. Após o desligamento do celular, o reitor enfatizou que a Uefs está seguindo as orientações cabíveis para a obediência à lei eleitoral e que vê a exibição da faixa como exercício do direito à livre manifestação sindical e de liberdade expressão. Após a argumentação do reitor, os homens saíram do prédio da Reitoria. Minutos depois, a vigilância da instituição registrou a ação desses homens que retiraram uma faixa no pórtico da universidade.

É crucial dizer para a sociedade que estamos diante de algo mais sério do que uma singela implicância com uma faixa. É preciso denunciar que estamos diante de um caso que nos serve de alerta para a existência em nossa sociedade de grupos de extrema-direita que atuam politicamente com ódio aos que pensam diferente, se tornaram sectários quanto a suas ideias, a ponto de não admitir manifestações de opinião que os desagrade. Isso não é condizente com o Estado Democrático de Direito. Quando violam o espaço da universidade, instituição consagrada na Constituição Federal como campo do livre pensar e da livre manifestação, e tentam calar a grafia de uma faixa, isso é um sinal evidente do perigo que representam para a universidade e para a democracia. Se tiverem o poder, lutarão pela negação da ciência, calarão debates importantes na sociedade e nas salas de aula, demonizarão os que defendem outras ideias e intimidarão qualquer forma de liberdade de pensamento, tentarão subjugar o Poder Judiciário e confrontarão sua independência, e se apropriarão do aparato de segurança pública para impor pela coerção suas ideias na vida cotidiana da sociedade. Terão, enfim, rasgado a nossa Constituição Federal. E como não se disse nada quando se rasgou uma faixa, já não poderemos dizer mais nada. É a porta da barbárie se abrindo para ceifar a ínfima parcela de sociedade civilizada e de democracia que ainda resta no nosso país.

A Reitoria da Universidade Estadual de Feira de Santana repudia as atitudes perpetradas por essas pessoas e grupos, e conclama a comunidade universitária a se mobilizar e seguir firme no propósito de defender os valores humanistas e civilizatórios, sem os quais não há como construir uma nação democrática, plural e livre”.

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